Sinto que preciso mudar. Muitas coisas que contribuíram para que eu seja quem sou hoje, vieram sobre mim e foram associadas à minha personalidade sem que eu primeiro as questionasse ou fizesse alguma seleção que me levasse a aceitá-las ou não.
Quero ser mais eu nas diversas ocasiões. Sinto é uma grande bobagem, diante de minha filha eu me mostrar durão ou carrancudo só para mostrar autoridade, e diante de pessoas tão menos importantes pra minha vida eu ter que fazer o papel de simpático, dócil o tempo todo e ter que achar tudo engraçado. Quero poder dizer para quem me pergunta como estou: “estou cansado”, “hoje eu não estou muito bem”, ou “o problema ainda persiste” sem que elas me lancem no profundo dos mares com o olhar de quem acha que pastor não passa por problemas, com a reprovação clara de que não era isso que queriam ouvir.
Quero, de coração, ser mais humano. Isso mesmo, mais humano e menos divino. Eu explico. Não se trata de me achar divino e de muito menos sugerir que pessoas me olhem assim. Mas acontece que eu tenho a perversa tendência a querer atingir um status maior do que eu posso ser (quem sabe até buscando ser divino mesmo), e isso me torna desumano. E ser mais humano é estar mais perto e cada vez mais identificado com os humanos ao meu redor. Independentemente do que eles vestem, dos seus títulos ou dos seus cheiros [importados]. Quero apertar as mãos das pessoas olhando nos seus olhos e não apenas por obrigação social. Quero dar atenção a quem me pedir atenção. Quero ser gente boa, como me parece ser aquela gente lá da primeira igreja do mundo (At. 2.47) Quero ser mais calmo e compreensivo com os erros das pessoas contra as quais eu também cometo erros. Quero olhar pra traz e ainda ver caminhos pelos quais eu possa voltar, ou que outros possam ainda trilhar. Quero voltar a ler poesia, a amar a música e a me render às crianças. Quero ver doçura na vida. Quero amar mais e respeitar mais a Criação. Quero ser mais responsável com o planeta.
Quero ser um pregador de palavras. De forma que elas façam bem pra quem as ouve. De forma que elas abram caminho nos corações humanos a fim que o Deus Eterno trabalhe neles. E que jamais eu tenha a pretensão de achar que eu fiz alguma obra miraculosa, ou descobri o remédio ou a poção mágica para o ser humano com os meus livros de teologia emaranhados e afundados dentro de imenso caldeirão, que se chama minha estante de trabalho.
Quero ter mais coragem. Sinto que preciso me lançar na vida e acreditar mais que atitudes custosas levam a resultados benéficos pra muita gente. Quero ter coragem de dizer não ao que o meu coração não consente. E quero poder dizer sim, com convicção, àquilo que é o melhor, mesmo que não agrade a todos.
Talvez eu não pudesse ter dito nada disso se não estivesse determinado a dar o primeiro passo a fim de me tornar uma pessoa melhor.
Marcelo Coelho