11 de outubro de 2008

SANTUÁRIO... da alma e do futebol



Parecia uma manhã como as demais. Tirando o fato de que um desânimo enorme se apoderou de mim. Eu tinha o costume de, por duas ou três manhãs da semana, ir até o estádio do Pacaembu e lá fazer meus exercícios físicos e finalizá-los com uma corridinha na pista ao redor do campo de futebol. [Certa vez não resisti e pisei o gramado. Foi fantástico!] Mas naquele dia não fui lá pra isso. Não tinha forças pra me exercitar, nem tampouco correr. Acho que o que eu queria mesmo era correr pra longe dos problemas e da aflição da minha alma.

De repente me ocorreu ir para um lugar onde eu pudesse ficar só comigo mesmo para assim, quem sabe, encontrar o Senhor na minha oração. A Bíblia fala que estes momentos deveriam ser vivenciados no ´teu quarto´. E eu estava mesmo era à procura de um lugar desses.

Estacionei o carro e comecei a caminhar pela pista e a falar com Deus. Meus olhos contemplavam de um lado e do outro, milhares de assentos vazios na arquibancada. E minha memória oscilava entre lembrar que Deus cuida de mim mesmo sendo eu mais um entre milhares e que aquele lugar tão silencioso é também o lugar de pessoas em êxtase tomadas de todas as emoções possíveis. Era como se eu ouvisse duas vozes: uma a que dizia: você continua sendo meu filho amado e a outra, bem longe, insistia em toar: “timão eh ô...”

Percebi que eu estava no lugar certo para o encontro desejado. Quase no final da volta na pista, olhei para um lado e para outro e, não vendo ninguém que me reprovasse, e percebendo que não causaria mal nenhum ao patrimônio público, resolvi subir a arquibancada do lado esquerdo do tobogã. Lá estava eu: “às margens do campo de futebol subi as arquibancadas e lá me assentei e chorei”. Na hora não vi nenhuma semelhança com os rios da babilônia, em cujas margens os israelitas se assentavam e choravam lembrando a terra santa. Todavia, hoje vejo que experimentei todos aqueles sentimentos relatados no salmo: saudade, tristeza, injustiça, e outros.

Não demorou muito a vir um funcionário e gritar lá de baixo algo que eu fiz questão de não ouvir, pois estava ocupado demais para olhar pra ele. Percebi então que ele começou a subir a arquibancada, bem como o que ele viria fazer ali. Mas aproveitei intensamente aqueles minutos que ele demorou pra vir onde eu estava.

Eu me sentia em terra estranha e proibida. Mas ao mesmo tempo aquele lugar me era maravilhosamente familiar. Meus questionamentos acerca da vida, pareciam estarem sendo postos no lugar certo. Sentia-me profundamente acolhido em minha oração. Foi um momento mágico.

Isto aconteceu há mais ou menos 6 anos atrás. Mas na semana passada, depois de visitar o museu do futebol, sonhei com aquele momento e com o salmo 137, e foi muito bom lembrar aquilo tudo. Por isso resolvi compartilhar com você estes sentimentos e emoções.

Qual é o seu lugar de encontro com Deus e com você mesmo?
O que é sagrado pra você?
Como você se sente depois que você sai “quarto”? Mt. 6.6

Com carinho, Pr. Marcelo

30 de setembro de 2008

DIAS DIFÍCEIS


Alguns dias parecem que não acabam. A sensação é a de que todas as forças se foram e mais nada poderia acontecer. E aí acontece ainda algo pior. Em dias como estes viver é apenas o mesmo que respirar e a única garantia que se tem de estar vivo é que de alguma forma se vê o corpo em pé, com movimentos e percebe-se que os olhos, por vezes, estão abertos.

Não é à toa que em momentos assim se prefere morrer a viver. Personagens que conhecemos na Bíblia, servos de Deus fiéis e usados por Deus com triunfos memoráveis passaram por isto. Elias pediu pra si a morte, Jeremias amaldiçoou o dia de seu nascimento Davi se viu como uma espécie de morto-vivo quando diz: “laços de morte me cercaram...”

Dias difíceis são aqueles em que a dor se alonga e se perpetua. Corpo que dói não lembra de quando era são. Não dá pra um dente que não dói servir de exemplo ou de consolo para o que está doendo. É o contrário o que acontece. A cabeça inteira dói. O corpo adoece por inteiro e sempre em uma espécie de progressão do mal. De novo os salmos: “um abismo chama outro abismo” “estou cansado de tanto gemer” “meus ossos doem”.

Dias difíceis ocorre a todo ser humano. Inclusive aos que têm um relacionamento de fidelidade ao Senhor. Eles são a mostra do que a Bíblia chama de período de tribulação. Por tribulação podem-se entender diversos significados. Sofrimentos, angústias ou decepções internas; Atrocidades, injustiças ou mazelas externas que nos atingem; condenação ou punição por um ato de injustiça cometido; ou ainda algo que aconteça sem nenhum propósito aparente ou revelado.

Encontramos do Gênesis ao Apocalipse expressão que denotam estes períodos de dias difíceis: “Quarenta dias e quarenta noites” na Arca de Noé, e a expressão “tribulação de dez dias”, no Apocalipse. Tudo isso passando por 400 anos no deserto, 70 anos no exílio, 3 dias vividos no ventre do peixe, ou na sepultura, 12, 18 ou 38 anos de sofrimento de pessoas que encontraram a Jesus, nos evangelhos, ou ainda expressões sem o período de tempo definido tais quais encontramos no profeta Jeremias “por um breve período de tempo”, “por certo tempo”, ou no Apóstolo Pedro “por breve tempo, se necessário”.

Dias difíceis passam e dias melhores vêm. Isto é o que acontece sempre. Mesmo que o corpo tenha se esquecido do que é não sentir dor, chega o memento em que ela passa. Toda dor tem um propósito. E ela não passa até que cumpra o seu telos. Em cada uma das ocasiões citadas houve um final. Final da dor. A grande diferença de todos aqueles casos e a nossa história é que nós ainda não chegamos no final. Os dias difíceis ainda estão aí. Aqueles casos se traduziram em Revelação de Deus a nós: de um Deus que não nos omite dias difíceis; de um Deus que está conosco enquanto passamos por eles; de um Deus que nos faz ter esperança de que dias melhores virão.

“Em minha tribulação invoquei o Senhor. E o Senhor me ouviu e me deu folga” Sl 118.5

com carinho, Pr. Marcelo

28 de agosto de 2008

O QUE FAZ DEUS FELIZ?


Você. Isso mesmo, você. A sua vida faz Deus feliz. Vamos ver, todavia, em que circunstâncias isso acontece. Precisamos então examinar, pelo menos, dois textos bíblicos.


O primeiro é o da videira e dos ramos. Diz lá que Deus é glorificado quando a gente dá muito fruto. Bom, pra gente poder dar fruto a gente tem que ser árvore viva e o mesmo texto diz que nós somos árvores vivas porque somos os galhos da videira verdadeira que é Cristo. Aliás, a gente só é galho vivo, que pode dar fruto, se estivermos em Cristo. Ele mesmo fala neste texto que sem ele nós não conseguiríamos realizar nada. “sem mim, nada podeis fazer” a gente também sabe pela Bíblia Sagrada que Deus gosta tanto de ser glorificado que uma vez disse: “a minha Glória não dou a ninguém”.


Então podemos afirmar que Deus fica feliz quando é glorificado. E que, portanto, se você é alguém cuja vida dá muito fruto, isso faz Deus feliz. Então o que eu disse antes está certo. Você faz Deus feliz!


A questão agora é. Quando é que eu faço Deus feliz? E a resposta é: quando eu dou muito fruto. Daí eu lhe convido a olhar outro texto bíblico em sua memória. Aquele que fala do que é o fruto do Espírito.


Eu tenho pra mim, que dar muito fruto nem é trazer gente pra Igreja, nem distribuir milhões de folhetos ou nem tampouco trabalhar a vida inteira na Igreja até que a nossa alma desmaie e o nosso coração seque por causa das frustrações que o serviço cristão nos dá. Não. Não acho que seja o trabalho cristão que faz Deus feliz.


O que faz Deus feliz é gente que ama. Quando você ama você faz Deus feliz, porque o fruto do Espírito é Amor.


O que faz Deus feliz é gente feliz. Quando você está alegre e vive uma vida de alegria, isso faz Deus sorri pra você. Porque o fruto do Espírito é alegria.


O que faz Deus feliz é gente que é agente da paz. Gente que quando fala, apazigua os corações ao seu lado. Porque o fruto do Espírito é paz. Deus não fica feliz quando as suas palavras geram conflito e perturbação nas pessoas.


O faz Deus feliz é gente paciente. Gente que sabe esperar pelo bem na vida, sem esmorecer e sem desistir pela falta de paciência. Ser paciente é não tentar resolver tudo sempre do seu jeito. É esperar em Deus, porque o fruto do Espírito é paciência.


O que faz Deus feliz são pessoas amáveis. Gente de quem a pessoas gostam, fazem Deus feliz enquanto vivem. Deus fica muito feliz quando outras pessoas ficam felizes com você. Porque o fruto do Espírito é amabilidade


O que faz Deus feliz são pessoas bondosas. Fazer o bem, faz Deus feliz. Ele é glorificado quando nossa luz (nossas boas obras) aparece. Ser bom em todos os seus passos é bom e faz Deus feliz, porque o fruto do Espírito é bondade.


O que faz Deus feliz é gente que se cuida. E gente que se cuida é fiel e sabe onde pode pisar o seu pé. Gente que se cuida é mansa. Não se perde nem se desespera com o que não pode resolver. Entrega nas mãos de Deus. E Deus fica feliz quando entregamos as coisas que nos tiram a mansidão à Ele. Gente que se cuida sabe dos seus limites. E consegue andar sempre aquém deles, pra não cair e não se machucar.. Quem se cuida faz Deus feliz, porque o fruto do Espírito é fidelidade, mansidão e domínio próprio.


Eu afirmei que você faz Deus feliz. Você concorda?

Com carinho, Pr. Marcelo
Em 28/08/2008

22 de agosto de 2008

AS AMORAS E O INVERNO


O inverno é uma metáfora vida. O frio já não é mais uma marca tão importante dos últimos invernos. Estive na cidade tida como a mais fria do Brasil e por lá ouvi: - Frio, frio mesmo de -4ºC a gente não vê faz uns dez anos e dizem as previsões que, devido ao aquecimento global nunca mais haverão dias como aqueles. Que pena!


Refiro-me, especificamente, à esterilidade que gosta do inverno por companhia. As gramas estão marrons. As parreiras e macieiras são como galhos de um arbusto que morreu. Feios, empalidecidos, como gravetos prontos pra ir à fogueira. A maioria das árvores está hibernando como fazem os ursos. E, por isso, nos omitem suas sombras, suas danças e suas belezas. Os vales e os montes estão todos tristes e macambúzios... É inverno!


Lá em casa tem dois pés de amora de ficam de frente à janela da sala. São novinhos ainda. Mas nem por isso são tímidos em nos alegrar com suas crias. Cada uma mais linda e mais deliciosa que a outra. São das grandes. Rechonchudas. Minha relação com estes pés de amora já dura 4 anos. Eram duas plantinhas quando lá cheguei. Hoje eu cuido deles, amarro os galhos depois da temporada porque quem passa por ali não resiste, mete a mão. E onde a mão não alcança, a outra puxa o galho até que a amora fique ao alcance do seu sorriso de conquista. Tudo isso sem se importar com os galhos que vão caindo, caindo até quebrar. A certa altura eles parecem aqueles velhinhos cansados e corcundas que deram a vida por seu trabalho e por servir os outros. Estão cumprindo sua missão. Pés de amora existem para que pessoas parem na frente deles e tenham a experiência única e fugaz do prazer. Como todo prazer tem um preço, alguns galhos se vão, eternamente.


As amoreiras fazem o caminho inverso das parreiras e das macieiras. No verão, enquanto as uvas e as maçãs reinam, as amoreiras estão como mortas, esquecidas de todos. Dava uma tristeza enorme olhar pra elas todos os dias e lembrar com saudade do tempo de outrora. Me fez reviver, à minha maneira o poema de Casimiro de Abreu. Era como se eu sentisse também saudades da aurora da vida.


Mas agora elas estão lá. No começo ainda, mas percebe-se claramente que tanto as amoras quanto os seus galhos cumprirão mais uma vez a exuberante missão de fazer as pessoas felizes. Sim, elas voltaram!


Invernos não duram pra sempre. Na vida há hibernações de alegria e de produção. Sofrimento. Mas eles também não duram pra sempre. Uma boa lição que aprendo com as minhas duas amoreiras é que a tristeza também é efêmera. Tristeza é saudade do sorriso. E a gente só sente saudade do que existe. Do que amamos. Passamos pelo sofrimento com a esperança de que sorriso existe e voltará. Assim como as amoras, que a cada dia entre os meses de agosto e outubro, voltam a sorrir e a fazer sorrir. Lembre-se: a amoras voltaram; o sorriso voltará!

“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” (salmo de Davi)

“E, respondendo Simão, disse-lhe: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos; mas, sobre a tua palavra, lançarei a rede.”
Com carinho, Pr. Marcelo
Em 21/08/2008.

SOBRE A ESPERANÇA E O ESPERAR

Espera-se por muita coisa nesta vida. Dizia-se da mulher grávida que ela estava “esperando”. Onde quer que vamos, há sempre uma fila. Lugar de espera. Se vamos ao cinema, enfrentamos a fila do transito; a fila do estacionamento; a fila para comprar o ingresso; a fila para a pipoca; fila para entrar; fila para sair, e assim vai.

Acontece até de a gente passar em algum lugar e perguntar curioso: que fila é essa? Pensamos: se tem fila, deve ser coisa boa. Algo que justifique a espera. A pergunta vem de um lugar do desejo. Quem sabe não haja algo aqui que me faça mais feliz? Na verdade a gente pega fila por coisas essenciais: emprego, dinheiro, saúde, educação, até para pagar contas.

Hospital é um lugar onde ninguém quer ir mas que todo mundo vai. E lá, a gente pode estar certo: vai Ter fila. Teremos que esperar para pegar a senha. Senha: lugar em outra fila. Então esperamos o médico chamar. O que ele diz? – Vamos precisar de um exame. E lá vamos nós para mais uma fila. Uma para fazer o exame e outra para saber o resultado. Então, horas depois voltamos ao mesmo médico. Chegando lá o que encontramos: outra fila. É assim mesmo. Hospital é lugar de esperar.

Mas hospital também é lugar de esperança. Após um trágico acidente, queremos primeiro saber se a vítima já foi para o hospital. – Pelo menos ele está sendo tratado, pensamos. Há esperança. Quando o pai aguarda ansioso a chegada do primeiro filho, aquele corredor por onde ele anda sem parar, pode ser chamado de lugar de esperança. Hospital é lugar onde se vai buscar cuidados especiais, curas, respostas não sabidas nos demais lugares. Dizemos para quem vai para o hospital: - você vai ficar bom! Que esperança! É onde moram os mistérios do corpo, onde atendem os gurus modernos. Aqueles que dão nomes (ainda que agente não entenda) às coisas que sentimos. Curioso, às vezes, só de saber que o que a gente sente tem um nome em algum livro, agente já se sente melhor. Por que será?

A esperança e a espera são irmãs. Elas moravam na mesma casa. Um dia, se separaram e algo aconteceu.

A espera decidiu morar nas ruas, na filas, nas repartições públicas, nos bancos, enfim nos lugares mais comuns e quase sempre muito chatos. A gente espera até a última hora para não precisar ir a estes lugares. Por que? Porque esperar é muito chato. É até despeitoso às vezes. A esperança, mais nobre , decidiu morar nos templos religiosos, na fábulas infantis, nas poesias, nos campos de girassóis, nas azaléias (nestas ela só fica nos meses do inverno), no sorriso da criança. Esperança não mora em lugar onde não há amor. “Ali pois permanecem a fé, a esperança e o amor, destes três porém, o maior deles é o amor”.

De vez em quando, as irmãs separadas resolvem se encontrar. Quase sempre elas se encontram num hospital. Hospital é lugar que tem fila mas que também tem sorrisos, azaléias, livros infantis, capelas, cultos e orações.

Havia um tanque em uma cidade chamada Betesda. Era um hospital. Betesda significa “casa de misericórdia”. Só que este hospital não era como os de hoje que ficam abertos 24 horas. Ele só abria uma vez por ano. Imagina o tamanho da fila? Para este lugar, afluía uma enorme multidão de enfermos, cegos, coxos e paralíticos. Todos iam lá com muita esperança. Pois eles acreditavam segundo uma história (histórias também são lugares de esperança) que a certo tempo descia ali no tanque um anjo, que agitava a água e a primeira pessoa que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse. Eu tenho dúvidas se havia mesmo um anjo ou se o que curava as pessoas era a fé naquela história.

Por mais que o hospital seja um lugar cheio de gente ferida, machucada no corpo e na alma, gente gemendo de dor, crianças com medo, pessoas estranhas e esperas, às vezes, intermináveis. Ele pode ser também lugar de esperança. Lugar onde você aproveita para refazer a vida, reeditar seus valores, estabelecer novas prioridades, reconhecer-se limitado e frágil (Felizes os humildes de espírito...), deixar ser cuidado e tratado pelas mãos humanas e pelas divinas.

Uma lembrança: nem sempre as irmãs se encontram.

Algumas dicas: Observe o sorriso das crianças. Leia um bom livro (talvez uma fábula). E aproveite as azaléias (elas estarão te esperando nos meses do inverno).

Um pensamento: Não há lugar mais paradoxal do que um hospital. Aqui trabalham os profissionais da saúde, mas o que eles fazem é lidar, quase sempre, com a doença. Às vezes agente ouve: - tem uma BPC no 9-A, ou – leve para o linfoma do quarto 3.

Uma letra de Chico: Pedro pedreiro, penseiro esperando o trem... Esperando, esperando, esperando, esperando o sol... ...é a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem...

5 de abril de 2008

Azaléia é fogo! Amor é fogo!



Camões enaltece o amor de uma forma assustadoramente bela. “O amor é fogo que arde sem se ver”. O curioso é que para se dizer que algo é bom, belo e digno de admiração é necessário que se mostre sua face nefasta e cruel. Adélia prado diz. “O amor é a coisa mais bela; o amor é a coisa mais triste; o amor é a coisa que eu mais quero”. Só desejamos algo de fato, quando se nos é revelado seu todo. Os dois lados. Em tudo há dois lados: o belo e feio, o triste e o alegre. Por isso é que Camões diz que o amor é uma ferida que dói mas não dói; que o amor é uma estranha mistura entre o ganho e a perda, entre o querer e não-querer entre a prisão e a liberdade.

É isto que o faz definir tão bem e tão concretamente algo que é misterioso e abstrato, porque esta é a verdade. Não a verdade de um poeta sobre o amor mas a verdade que existe em cada um de nós. Sabemos que é assim. Quando temos uma compreensão mística de algo que mora nas nossas profundezas e então ouvimos aqui fora o que já havia sido dito lá dentro, somos seduzidos pela palavra. E não há melhor forma de persuasão. Porque não fomos persuadidos por um outro mas por nós mesmos. Eu e você temos um quê de Camões, de Shakespeare na nossa compreensão acerca do amor. Sabemos que é assim mesmo e persistimos em não aceitar amor atrelado à morte, virtude irmã da fraqueza.

Quando chega o inverno, e eu vejo o amor que exala das flores das azaléias espalhadas por todos os cantos, lembro de Camões. Lembro que são possíveis coisas belas no inverno, lembro que o esquecido tornou-se revelado, lembro que o desprezo, que o trivial, que o comum têm também seu momento de esplendor e enaltação. Azaléias são aqueles pequenos arbustos com uma folhinha verde-escura e bem grossa. Parece até planta brava. Mas quando chega o seu tempo de florescer, o verde empresta o lugar ao brilho das flores, o que era rústico vira singelesa, poesia.

O brilho é tão forte que quase chega a ser agressivo. Dá até medo. Assim como temos medo de amar. Medo por ter sentimentos tão fortes como aquele que nos surgem de repente. O mesmo medo de que falou Vinícius no soneto do amor total. Seu medo era tal e seu sentimento tão estranho a si mesmo, que dizia: “hei de morrer de amar mais que pude”.

Azaléia é fogo porque ela é uma metáfora do amor. Só ama que consegue passar o ano com o rústico para então deleitar-se com a beleza. Só é tomado de temor frente ao brilho esfuziante das flores, quem por longo tempo acariciou a pequena e despretensiosa folhinha verde e peluda. A carícia era sinal de aceitação. Quando agente ama agente diz: ainda que não seja hoje o dia da flor eu continuarei a teu lado a acariciar-te, continuarei a amar-te. É quando o amor penetra até às raízes da planta. Ama-se cada parte dela. Tanto a vista quanto a não vista tanto as flores como as folhas, como o caule e também as raízes, ainda que não saibamos como elas são (e é melhor que não saibamos, pode morrer!). Amar é ter raízes... É de lá que brotam as flores.

O grande problema dos relacionamentos é quando eles são baseados apenas na flor. Enquanto te vejo bela te amo. E quando a flor cai? Então o arbusto é abandonado mesmo que ele não entenda o porque. pois [pensa:] continua sendo o que sempre foi; voltará a ter/ser flores.

Na verdade não se a amava o todo; amava-se apenas a beleza efêmera da flor. O pólen que atrai as abelhas no cio foi o que promoveu o mesmo cio humano e insaciável.

O que faz então este amante/inseto? Vai a procura de outras flores, mais ou menos belas que esta. Não importa. Importa que sejam flores, que tenham um bom cheiro, uma boa cor, umas pétalas macias, um libidinoso pólen...

Procura um amor que não existe. Um amor que só tem um lado. Que ao contrário do que pensa (alegria realização, gozo) apenas dói, queima, fere e machuca. Machuca a si mesmo, tal como ficaram feridas as rosas deixadas pelo caminho.

Castro Alves diz que o verdadeiro amor não exclui o pejo. Não há amor sem preço, sem entrega, sem compreensão da verdade, do todo do amor.

É possível fazer amor como o das azaléias. Casamento é isso: um encontro com a rosa e um abraço muitas vezes espinhoso e sangrento. Mas é sangue de amor que dói mas não dói, que rasga a pele mas penetra o fundo do peito. É acariciar o arbusto que mais ninguém vê. É fazer o outro saber que você admira a beleza que ele é e não apenas as flores que tem.
Amo as azaléias, principalmente quando elas não são notadas; quando estão adormecidas. E aí, deito ao lado delas e tenho um gostoso sonho e vejo que o verdadeiro amor é possível.

20 de março de 2008

Páscoa - uma imposição do bem

Sugiro que aproveites do clima que a data religiosa promove e faças uma viagem pra dentro de si mesmo , de sua alma e procures uma vivência com o ´Totalmente Outro´* que se impõe em visitar-nos nesta semana memorável.

um breve momento de reflexão**, um abraço bem apertado na pessoa amada, ou uma disciplina maior que o leve a reviver experiências religiosas de raizes são algumas dicas.

Boa Páscoa a todos.
*Expressão utilizada por Rudolf Otto em "O Sagrado" para designar a existência de um ser superior a quem os cristãos chamam de Deus.

**O texto do Pastor Saulo em http://ipesperanca.blospot.com/ é uma sugestão.

18 de março de 2008

O MONGE E O EXECUTIVO (Leitura/Resumo)


O MONGE E O EXECUTIVO (Leitura/Resumo)

Terminei agora de fazer esta leitura que, desde o início, há uma semana atrás, foi muito instigante e motivadora. Confesso que este é um daqueles livros, cuja leitura é difícil de deixar pra depois. Resolvi, portanto compartilhar com os meus amigos e amigas alguns conceitos que, espero, os motivem também à leitura.

Como diz o sub-título, é uma história que o autor nos conta (e James Hunter é um bom contador de histórias) sobre uma pessoa em crise com a sua vida e sua carreira. John Daily, o protagonista e ao mesmo tempo narrador da história, é um executivo com sérios problemas profissional, familiar e pessoal, a ponto de o levarem a questionar sua própria razão de existir. Experimenta uns acontecimentos misteriosos do ponto de vista espiritual, que culminam com sua ida a um Retiro de uma semana, para 6 pessoas, aos pés de um frade instrutor, cujo nome adotado pela ordem a que pertence revela, com intensa perturbação, que algo muito misterioso e, ao mesmo tempo profundo e transformador estava para acontecer com John.

Este frade é/foi, na verdade, o brilhante palestrante e eficiente consultor de empresas Leonard Hoffman, que a certo ponto da carreira, após a morte de sua esposa, abandona tudo e vai morar neste mosteiro beneditino, onde torna-se monge.

O leitor acaba sendo um dos participantes do retiro e, tem a oportunidade de usufruir e interagir com os conceitos de liderança apresentados e produzidos pelos participantes.

De linguagem leve, divertida e claríssima, a obra pode lavar o leitor a estabelecer um novo conceito de liderança, e até mesmo de estilo de vida. É mesmo um livro transformador.

O estilo apresentado é o da “liderança construída sobre autoridade ou influência , que por sua vez são constituídas sobre serviço e sacrifício, que são construídos sobre o amor” (P. 95)

Fiquem, então, com alguns pequenos recortes que também guardarei pra mim, e me ajudarão em meu processo de transformação.

“o amor é o que amor faz”

“Liderança: É a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum”


“Poder: É a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer sua vontade, por causa da sua força ou posição, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer”

“Autoridade: a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que você quer por causa da sua influência pessoal.”

“comportamento é escolha.”

“quando uso a palavra amor eu me refiro a um comportamento e não a um sentimento”

“a chave para a liderança é executar as tarefas enquanto se constroem os relacionamentos”

“Tudo na vida gira em torno dos relacionamentos”

“um líder é alguém que identifica e satisfaz as necessidades legítimas de seus liderados e remove todas as barreiras para que possam servir ao cliente. De novo, para liderar você deve servir.”

“A autoridade sempre se estabelece ao servir aos outros e sacrificar-se por eles.”

“precisamos uns dos outros... os arrogantes e orgulhosos fingem que não precisam... que piada! Um par de mãos me tirou do útero... outro trocou minhas fraudas, me alimentou, me nutriu, outro ainda me ensinou a ler e escrever. Agora, outros pares de mãos cultivam minha comida, entregam minha correspondência, coletam meu lixo, fornecem-me eletricidade... um par de mãos cuidará de mim quando eu ficar doente e velha, e me levará de volta à terra quando eu morrer.”

“Atrasar-se, também transmite a mensagem de que eu não devo ser muito importante pra pessoa, porque ela certamente seria pontual com alguém que ela achasse importante”.

“... sentimentos vêm e vão, e é o compromisso que nos sustenta”

“amar vinte homens durante um ano é fácil se comparado a amar um homem durante vinte anos”

Amor e Liderança

Paciência
Mostrar auto-controle
Bondade
Dar atenção, apreciação e incentivo
Humildade
Ser autêntico e sem pretensão ou arrogância
Respeito
Tratar os outros como pessoas importantes
Abnegação
Satisfazer as necessidades dos outros
Perdão
Desistir de ressentimento quando prejudicado
Honestidade
Ser livre de engano
Compromisso
Sustentar suas escolhas
Resultados:
Serviço e
Sacrifício
Pôr de lado suas vontades e necessiadades;
Buscar o maior bem para os outros

“Contas bancárias relacionais...”


“Não é meu trabalho pilotar o navio;
Nunca soprarei a corneta.
Não é meu lugar dizer até onde o navio irá.
Não tenho licença para ir ao convés
Ou mesmo tocar o sino.
Mas se esta coisa começar a afundar
Olhe quem vai para i inferno!”

“O homem é essencialmente autodeterminante. Ele se transforma no que fez de si mesmo...”

“os que seguem a multidão nunca serão seguidos por ela”

“... todas as grandes religiões do mundo ensinam a superar nossa natureza egoísta.”

“intenções menos ações é igual a nada”

“se nada muda, nada muda.”

“ a definição de insanidade é continuar a fazer o que você sempre fez, desejando obter resultados diferentes!”

“de nada vele aprender bem se você deixar de fazer bem!”

11 de março de 2008

DEUS CUIDA DE NÓS



Pois do Senhor é o Reino, é Ele quem governa as nações. Salmo 22.28
Precisamos sentir-nos seguros e confiantes. Tanto quando olharmos para o passado, seja com júbilo ou lágrimas, quando vislumbrarmos o futuro incerto. Além, é claro, em cada situação presente todos nós queremos que tudo esteja bem. Quando pensamos na providência divina é restaurado em nosso ser a segurança e a confiança. “As obras da providência de Deus são, à sua maneira, muito santa, sábia e poderosa para preservar e governar todas as suas criaturas e todas as ações delas”.

As datas festivas trazem memórias. Aniversários, casamentos, formaturas, etc. Somos tomados de nostalgia quando estamos diante de uma comemoração ou celebração especial. É assim também com a Páscoa, Natal, ou ano novo. Mas também a nação quer ser lembrada quando passamos por datas que marcaram sua história. Assim temos o dia disso ou o dia daquilo, o dia desse tal ou daquele outro . Em alguns desses dias é feriado nacional. Param-se todas atividades sob o mandato soberano da nação: lembrem-se!

Estamos atônitos e perplexos com as ocorrências dos últimos dias. Diante da violência desmedida e do clima de insegurança devemos parar. Este é, antes de tudo, um momento de lembrarmos da nação. Voltarmo-nos para os seus símbolos com o sentimento de confiança e esperança. Sobretudo os discípulos de Cristo devem participar deste momento. Isto porque não cremos em Deus alheio ou distante dos acontecimentos de nosso povo, quer seja no passado, presente ou futuro.

A nossa teologia diz: “A doutrina da providência ensina aos cristãos que eles nunca estão presos à sorte cega, à casualidade, ao acaso ou ao destino. Tudo o que lhes acontece é divinamente planejado, e cada acontecimento chega como um novo convite a confiar, a obedecer e a regozijar-se, sabendo que todas as coisas ocorrem para o seu bem espiritual e eterno (Rm8.28)”


Quando pensamos na história de nossa nação brasileira lembramos de um passado de muitas tristezas mas também de muitos triunfos, vivemos hoje um tempo difícil moral, social e politicamente, mas podemos esperar um futuro onde jaz a promessa de que Deus é não apenas o criador dele mas seu sustentador. Portanto estejamos seguros e confiantes naquele que ‘governa as nações’. Deus abençoe o Brasil. Deus abençoe São Paulo.
Rev. Marcelo Coelho

3 de março de 2008

CAFÉ COM GENTE




Cheguei à sala do cafezinho e a vi sem ninguém. Pensei: vou atrás de amigo para tomar comigo um café enquanto trocamos dois dedos de prosa. Não encontrei o amigo. Porém quando voltei, desolado, encontrei um colega que também chegara na sala. Conversamos, tomamos nosso café e cada um continuou suas atividades. Do que falamos? Não lembro.

Estou convencido de que o melhor acompanhamento para o famoso cafezinho é gente. Isso mesmo. Café com pessoas por perto. Que falta faz quando não temos ninguém por perto. Ainda que seja, e quase sempre o é, para falar de trivialidades. Amenidades. Há alguns que pensam ser isto, uma enorme perda de tempo. Todavia é necessário reconhecer que quando a vida fica muito séria e tudo o que fazemos resume-se a pesadas e criteriosas obrigações, estamos fadados ao estresse. Além do que, para pessoas assim, a vida em sua volta já perdeu todo o colorido e a leveza.

Qual é importância de um momento assim pra você? Tem gente que diz, de uma forma bastante defensiva: Não, obrigado, eu não bebo café. Ele também poderia dizer: não, obrigado, eu não perco tempo com gente falando à toa. Precisamos retomar o costume dos antigos que paravam onde se encontravam para trocar dois dedos de prosa. Nestas conversas, desinteressadas que são, conhecemos as pessoas mais próximas do que elas realmente são. Quem sabe dali não parte novos contatos, mais úteis e proveitosos (para os pragmáticos), ou então você saia dali extremamente satisfeito por ter dado ótimas risadas da última piada que ouviu. A propósito, na próxima piada que você ouvir, por favor, ria. Mesmo que a piada não tenha sido boa, ou que você já a tenha ouvido mil vezes. Faça isso apenas para não parecer chato e inadequado.

Que tal você começar hoje a valorizar estes encontros rápidos e desinteressados. Parar com tudo e relaxar ao lado de alguém que, assim como você, precisa de um tempinho para não pensar em nada e para não falar sério. Cultivemos momento assim, que certamente colheremos relacionamentos significativos e contatos que promoverão a alegria de pessoas, a glória de Deus e a expansão do seu Reino.

Com carinho e aguardando você para um cafezinho Pr. Marcelo

RICOS DE ESPERANÇA





E o Deus da esperança, vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo. Rm 15.13

Nem sempre a fartura de bens materiais é sinônimo de felicidade. Há pessoas que vivenciam enormes crises e vivem uma vida extremamente infeliz e mesmo assim são abastadas e esbanjam de seu dinheiro à vontade. Ouvi certa vez a frase cruel: “ele era tão pobre, mas tão pobre que só tinha dinheiro”.

Mas também não é a falta de bens materiais que garante ao homem a felicidade. A vida boa de ser vivida não está, necessariamente, atrelada à condição financeira que se tem.

Bem estar é algo que vem de dentro e não de fora. Não é questão de ter mas de ser. Não é da ordem do “meu” mas do “eu”.

Ser rico de esperança é, antes de tudo, ter o “eu” melhorado a cada dia. É ser alguém que, ao acordar, faz novamente a escolha de viver para o bem. Olha, primeiramente, para as possibilidades e em direção às partes preservadas da própria vida.

Parece-me, todavia, que alguém, não consiga fazer-se a si mesma uma pessoa rica de esperança. É necessário um convívio transformador. Viver uma relação intensa com alguém que já tenha ou seja rico de esperança. Há pessoas, que de tão inspiradoras e alegres, são assim. Espero que você seja uma delas e eu quero, por isso, estar bem pertinho de você.

Mas há ainda uma outra forma de chegar lá. É através da relação com Deus. Pois ele é o Deus da Esperança, Ele nos enche de alegria e paz quando cremos, ou entregamos a Ele nossa História de vida. Ele ainda nos dá o Espírito Santo, cujo poder transformador, pode fazer de qualquer pessoa, que viva uma vida triste e empobrecidamente infeliz, um ser rico de esperança.

Com Carinho, Pr. Marcelo

"Eu- eu Sou diferente! todo mundo me odeia e eu odeio todo mundo!"

ENFRENTANDO AS PROVAÇÕES E TRIBULAÇÕES



Como o cristão deve enfrentar as tribulações e provações e ser um vencedor? Esta deve ser a pergunta que devemos fazer quando as coisas não vão bem. Uma reflexão séria na carta de Tiago nos ajuda a resolver esta questão. Ao invés de ficar abalado, irado, e atacar a todos que estão ao seu redor por causa dos problemas, devemos fazer o que a Palavra de Deus nos diz. O texto bíblico é o de Tiago capítulo 1.



Temos, portanto diante de nós cinco atitudes que devemos tomar toda vez que enfrentarmos momentos difíceis:



1. Enfrentar as provações com o espírito correto (vv 2-4).
Primeiro com alegria e regozijo no coração (v.2), e não com amargura, ira, desânimo, revolta e etc. Segundo reconhecendo a causa das provações que podem ser: a) Deus usa a provação para produzir caráter maduro (v.3); b) Ele quer que sejamos perfeitos (v.4) as provações em nossas vidas tem um caráter pedagógico, e sempre nos tornam pessoas melhores. O padrão de Deus para todo cristão é a busca da perfeição.



2. Orar por Sabedoria (vv 5-8).
A sabedoria vinda de Deus nos mostra como agir em meio aos testes da vida (Tg 3.13-18); temos que orar a Deus clamando por sabedoria (v.5). devemos orar confiante na liberalidade de Deus e com fé de que iremos recebê-la, sem duvidar.



3. Reconhecendo o caráter passageiro das coisas e circunstâncias da vida (vv 9-11).
As tribulações são passageiras e transitórias. Os problemas financeiros, profissionais, sociais e outros representam momentos e situações em nossas vidas que de uma hora pra outra deixam de existir. O cristão deveria reconhecer que os problemas não duram para sempre.



4. Reconhecer as origens das provações e tentações (vv 12-18)
a) Deus tem um propósito para todas as coisas, também para as nossos sofrimentos. Deus manda as provações com o propósito de provarmos e nos dar recompensa (v. 12). b) A tentação vem do nosso coração (vv. 13-15). Não é Deus quem nos dá a tentação, isso devido sua santidade e justiça. Se observarmos o processo de geração do pecado veremos que a fonte está nos desejos de nosso coração. c) Toda boa dádiva vem de Deus (vv16-18). Isso porque ele é santo e imutável. A maior dádiva é que ele nos gerou para sermos seus filhos.



5. Disposição para aprender (vv. 19-20).
a) nossa disposição natural e pecaminosa diante da aflição é irar-nos. Isso com impaciência, desânimo, desistência, cólera e desabafo. Queremos resolver na força da carne, com a atitude puramente humana. Mas a atitude correta é “prontidão para ouvir (aprender)”, Além disso ser tardio para falar e para se irar. O motivo é que “A ira humana nunca acha uma solução que Deus aprove”. A raiva humana nunca nos tornará justos como Deus exige (v.20).



Mesmo sendo diversas e variadas as fontes de tribulações e sofrimento a atitude do cristão deve ser sempre a mesma. Aquela que não apenas o ajudará a enfrentar de forma positiva e vitoriosa a crise como também o tornará maduro e justo diante de Deus.
MCA

"Todo Sofrimento humano deve ser levado à Cruz. Ele voltará de lá desabsurdificado". (TL John Stott)

A RELIGIÃO NA CASERNA: O Papel do Capelão Militar

Dissertação de Mestrado stricto sensu apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como um dos requisitos para obtenção do grau de mestre no curso de pós-graduação em Ciências da Religião.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Máspoli Gomes




São Paulo
2006
MARCELO COELHO ALMEIDA

a religião na caseRna:
O PAPEL DO CAPELÃO MILITAR


Dissertação de Mestrado stricto sensu apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como um dos requisitos para obtenção do grau de mestre no curso de pós-graduação em Ciências da Religião.

Aprovada em Fevereiro de 2007.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes
Orientador

Prof. Dr. Calvino Camargo
Centro Universitário de Maringá (CESUMAR)

Prof. Dr. João Baptista Borges
Universidade Presbiteriana Mackenzie

RESUMO


Esta pesquisa procura avaliar o trabalho de um capelão militar. O foco central é analisar sua influência e a validade de seu trabalho dentro de uma Organização Militar. A partir de constatações históricas, teológicas, técnicas e práticas, no transcurso do trabalho procura-se comprovar a hipótese de que a capelania sempre foi, é nos dias atuais, e sempre será de extrema relevância para as Forças Armadas. O serviço de capelania em nível de influência, validade e importância está para uma Organização Militar tal qual a espiritualidade e a religião estão para o ser humano. O caminho percorrido nas constatações obtidas passa primeiramente por uma via histórica desde os primórdios até sua regularização e prática expansiva nos dias atuais. Depois, passa pela questão religiosa. Analisa, por um lado, a pessoa humana, sendo esta dotada de espiritualidade e, portanto, necessitada do encontro com o sagrado; e por outro lado, analisando o ambiente militar como uma instituição total, cujo conceito aponta inexoravelmente para uma intervenção de ajuda no que tange aos recursos oferecidos pelas crenças religiosas. Por fim, este caminho é trilhado em meio á prática profissional do autor, como capelão evangélico da Aeronáutica. A profissão militar de um capelão é abordada separadamente quanto ao militarismo e ao trabalho religioso, não deixando de lado a intersecção dos dois, formando assim um conceito de capelania militar.


Palavras-chave: Religião, Capelania, Capelania militar. Força Aérea Brasileira.
disponível em www.mackenzie.com.br (programa de Mestrado em Ciências da Religião>Dissertações e Teses)

28 de fevereiro de 2008

O SILÊNCIO NA RELAÇÃO COM DEUS - Resumo do estudo no Livro de Habacuque




O silêncio ocupa um lugar importante na nossa relação com Deus. Enquanto analisamos o livro do profeta Habacuque, constatamos que naquele livro há três circunstâncias especiais em que o silêncio aparece. Vejamos:

I. O SILÊNCIO DE DEUS – Hc 1.1-4.
A primeira e chocante constatação de Habacuque, em meio a uma enorme crise, foi que Deus, por vezes, fica em silêncio. Vemos isso quando lemos o profeta dizendo: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e não me escutarás?” (v.2). Todavia, este silêncio de Deus não significa que Ele não esteja no controle da situação. No texto, pode-se facilmente reconhecer que, embora Deus, não tivesse respondido ao profeta, Ele sabia exatamente tudo o que estava acontecendo e, ainda mais, tinha em suas mãos o controle de todos as circunstâncias.

O silêncio de Deus mostra que nem sempre Ele nos responde na hora ou da forma que nós esperamos. Por um lado, Deus não respondeu ao clamor de Habacuque, por outro, quando Ele respondeu, o resultado foi estranhamente pior do que o silêncio. Isto porque Deus falou a Habacuque que usaria como seu instrumento de disciplina um povo mal e injusto. Leia o capítulo 1. vv 5-11 e verá quão pesada e aterradora foi a resposta de Deus para Habacuque.

Este silêncio de Deus também revela que, às vezes, a disciplina faz parte do lidar de Deus para com seu povo. Não podemos nos esquecer jamais de que nossos procedimentos na vida implicam na aprovação ou reprovação de Deus. E como aprendemos nas Escrituras “dura coisa é cair nas mãos do Deus vivo”. Deus demorou a responder e quando respondeu, surpreendeu o povo, porque este povo esta sob disciplina. Deus os cobrou um ajuste de contas, como qualquer pai faz com seu filho a quem ama e por quem espera o bem. Quando vimos o texto de Hebreus 12.16, reconhecemos textualmente que toda disciplina é sinal do amor do Pai sobre a vida de seus filhos.

Deus é soberano e não é controlado por nossa vontade ou padrões teológicos. Pode ser que am nossa vida ele também queira se revelar através do silêncio. Submetamo-nos, pois a Ele.



II. O SILÊNCIO QUE DEUS EXIGE– Hc Cap 2

No livro do profeta Habacuque Deus, além de ficar em silêncio, também exige silêncio de seu povo. “O Senhor, porém, está no seu santo templo. Cale-se diante d’Ele toda a terra” (2.19). Na sua resposta ao profeta, Deus exige que seu povo confie nele ao ponto de calarem-se.

Através deste silêncio exigido por Deus, Ele mostra que está ativo e atuante durante todos os acontecimentos que culminaram com a crise do profeta. É como se Ele dissesse: fiquem calmos, fiquem tranqüilos e em silêncio, pois eu estou no controle. Algumas vezes, a gente fala demais por nos sentirmos perdidos diante das situações. Devemos colocar todas estas situações nas mãos de Deus e calarmo-nos.

Deus tem seu próprio tempo de agir. Ele não age simplesmente porque o nosso tempo chegou. O nosso relógio não é o de Deus. Aliás, o relógio de Deus é mil vezes mais atrasado que os nossos (2Pe3.8). A revelação de Deus a Habacuque diz: a visão está para cumprir-se no tempo determinado, ... se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará. No dizer de outro profeta, somos também motivados a aguardar a ação de Deus calados: Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio.(Lm 3.26)

Quando Deus ordena que seu povo cale-se diante dele no templo, Ele mostra para o profeta que além de saber tudo o que se passava, Ele é julgador e poderoso para a manutenção da sua vontade e domínio. Julgador porque Ele promete dar cabo do mal e condenar o povo perverso e, sobretudo, o seu Rei (veja o cap. 2.6-18); e poderoso porque sua exigência de silêncio nasce de um ciúme. Ciúme porque Ele acabara de referir-se aos deuses de pau e de pedra. E, em contraste a estes deuses que sequer podem acordar de seu sono, o Senhor está vivo e atuante no seu santo templo. Ele é um Deus vivo que tem poder suficiente para colocá-lo acima de qualquer um outro, esteja no céu, na terra ou debaixo da terra.

Nem sempre é bom ficarmos calados. Principalmente na hora da dor e do sofrimento. Mas devemos aguardar a justiça de Deus e a sua operação poderosa em favor dos que O amam. Além disso, foi Ele próprio quem nos mandou aguardar em silêncio. Silenciemos-nos então.



III. O SILÊNCIO DO HOMEM

O que dizer de uma pessoa altamente religiosa e que é obrigada a enfrentar uma enorme crise? Para alguns isso pode até parecer estranho. E quando não resta outra solução a não ser a de ficar em absoluto silêncio?

A gente fica em silêncio diante do inexplicável. O silêncio é o grito de pavor de uma alma que não sabe como se expressar. A morte de alguém querido silencia os que ficaram. Estar diante de uma criança com câncer em estado terminal, faz-nos perder, não só a fala mas o tino pra vida. Ficamos em silêncio quando temos que decidir algo que irá mudar totalmente nossa vida.

Mas não foi esse o tipo de silêncio do Profeta. Habacuque experimentou o silêncio religioso (Cap 3. 16). Ele ficou em silêncio aguardando a intervenção divina até que sua crise cessasse. Vamos conhecer este silêncio do profeta.

O silêncio da oração foi a resposta que Habacuque encontrou para o silêncio de Deus (2.1). Ele disse vou subir na torre, orar e esperar. – Ficarei aguardando o que o Senhor trará ao meu coração como resposta para o meu sofrimento. Todavia, seu silêncio representava, como vemos no seu relato, que ele buscava o reconhecimento de quem Deus é. Ou seja, ele reporta a sua mente para o caráter de Deus. E ao relembrar que Deus é santo, salvador e sustentador de seu povo, ele (Habacuque) pode então aguardar em silêncio. (1.12-13).

O silêncio faz a gente pensar. E quando a gente pensa muito, nossa mente começa a relembrar fatos e ensinamentos que no momento de muita tagarelice a gente seria incapaz de lembrar. Foi assim com Habacuque. Sua escolha pelo silêncio o fez rememorar os grandes feitos de Deus na História (3.3-15). Lembrar que as ações de Deus vão pra muito além do que Ele fez e fará na nossa simples história pessoal, enche de esperança o coração humano.

Silêncio diante de Deus não significa estagnação da esperança. Devemos aprender com o Profeta que, embora devamos silenciar a alma diante da crise, não podemos deixar apagar a chama do desejo. O seu legado a nós deixado, foi o de uma expectativa enorme na intervenção de Deus (3.16). Além disso, Habacuque faz uma escolha extraordinária e revolucionária para quem quer que seja: a de esperar pelo triunfo absoluto, mesmo no meio e durante a adversidade, que no seu texto, são coisas absurdas e improváveis acontecendo diante dos seus olhos.

Isso sim é que é ter a certeza, pela sua própria experiência, que Deus é bom. Isso é que é ter esperança.

Com carinho, Pr. Marcelo

CACHORRO OU GATO?





Ouvi, estes dias, uma comparação bastante curiosa sobre o comportamento de muitos de nós. Refiro-me, é lógico, à nossa vida cristã. Por vezes, é necessário falar dos bichos para conhecer as pessoas.
O gato e o cachorro têm muita ciosa em comum. Ambos são animais domésticos, a maioria deles têm uma história de carinho e afeto com o seu ambiente residencial, ambos são alvo da indústria e comércio cada vez mais crescente dos “pet-shop”, enfim. Todavia, o que nos importa aqui são as diferenças.
O gato é um animal extremamente voltado para si mesmo. Tudo têm que ser feito na medida das suas necessidades. Seu ambiente de conforto é o que mais importa. Ele não faz a mínima questão de acompanhar o seu dono quando este sai de casa, isto porque nada pode interromper sua deliciosa cesta e a rotina absolutamente voltada para o seu bel prazer. Não quero ser injusto com os gatos e com os seus donos. Mas notemos que a coisa mais inusitada do mundo é vermos um gatinho na coleira passeando com o seu dono, voltas a fio, enquanto este faz a sua corrida matutina no parque do Ibirapuera... Eu nunca vi. Com relação ao carinho, o gato é extremamente afetuoso, desde que depois que seu dono faça o carinho e o chamego de que ele tanto gosta. Tanto que depois que o dono chega, o bichano aguarda o melhor momento e já vem se esfregando em suas pernas pedindo um afeto.
O cachorro é bem diferente. Além de fazer tudo isso que dissemos acima que os gatos não fazem, eles são animais conhecidos pela lealdade e fidelidade ao seu dono. Se ele pudesse, acompanharia o dono em todos os seus momentos do dia. Sem se cansar. Afinal é assim que a gente vê com os cachorros dos andarilhos e mendigos na rua. É como se o cachorro dissesse para o seu dono aquilo que a Rute disse a Noemi: “Onde quer que você for, eu irei; onde você pousar ali será também o meu pouso; a sua cama será a minha cama, ainda que seja uma calçada ou uma caixa de papelão...”(1) Além disso o cachorro defende o seu dono a todo custo. Apenas os mendigos do dono estão fora de sua ira. A vida do cachorro é toda em função do seu dono, e não o contrário. Já gato de mendigo...
Quando somos comparados a um gato tendo a Deus como o nosso dono, queremos que Deus nos sirva à todo custo e que supra todas as nossas necessidades, mesmo que para isso esperamos o melhor momento pra dar uma miadinha e esfregarmo-nos em suas pernas, dando uma de bonzinho. Mas no fundo, o objetivo é ganhar o chamego que queremos. Sempre receber, e não o de agradar ao dono.
Já o cachorro é aquele cuja relação com o dono, baseia-se na lealdade, fidelidade, companheirismo e amor. Ainda que a isso não esteja totalmente confortável.
Em suma:
O gato diz: Você me ama, você me alimenta, você me agrada: eu devo ser um deus;
O cachorro diz: Eu te amo, eu te sirvo, eu te acompanho, eu te sou fiel: você é o meu deus.

Com carinho, Pr. Marcelo



(1) Confira em Rt 1.16 e 17
(2) Em defesa dos gatos: Gosto dos gatos e das pessoas que dedicam suas vidas a cuidar deles. O exemplo da Neuci, que “adotou” os cerca de 60 gatos que vivem nos jardins da Santa Casa de São Paulo é louvável e deve ser admirado por todos nós.

21 de fevereiro de 2008

O DESAFIO DA ÉTICA IDEAL - ELA EXISTE?



Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a fidelidade, a mansidão, o domínio próprio... Gl 5.22-23.
A carta aos Gálatas tem nesta passagem um de seus textos mais conhecidos e citados pelo povo de Deus. Inúmeros teólogos apresentam suas “teologias” da famosa passagem do FRUTO DO ESPÍRITO. Imagine quantos sermões, em toda a história cristã, já não foram pregados sobre estes dois versículos das Escrituras!

Existem outras citações bíblicas que ajudam ou determinam ao crente como ele deve proceder em sua vida diária. Ensinamentos como este, assim como as bem-aventuranças e também as várias exortações do Apóstolo Paulo sobre a conduta cristã (Fp 2.1-4; Ef 4.25-32 e o cap. 5 e outras) são, sobretudo, um enorme desafio para nós, os discípulos de Cristo.

Se compararmos o ensinamento bíblico (ideal) com a prática de vida (real) nós teremos decepções. Aí você pode dizer: Ah! Mas ninguém é perfeito!

O problema não está em ser ou não perfeito. Ninguém é. O problema que vejo é quando cultivamos algumas virtudes e outras não. Há pessoas que são extremamente zelosas na justiça e no direito. Só permitem o que é correto. E para defender o certo não consideram a bondade, a gentileza, o respeito ao outro, a doçura. Por outro lado, há aqueles que são um mel de tão doce. Nunca entram em uma sala sem ser gentil até com o cachorrinho. Mas que, em nome da paz e da harmonia, permitem os maiores absurdos e pecados.

Outro exemplo está no grupo de pessoas que combatem aqueles pecados “graves” ou escandalosos (comuns aos outros) mas em seu coração não há lugar para nem mais um ensinamento de Deus porque o orgulho ocupou toda a sua extensão. Ou então, no imenso desejo de agradar a Deus em tudo as pessoas vivem uma imensa dor no peito. Não conhecem nem a “paz” nem a “alegria” , tal é a luta e sofrimento por que passam para manter uma vida de santidade.

Volto ao desafio. Porque é tão difícil esta ética una? Jesus disse que só os pobres de espírito herdarão o Reino de Deus. Esta qualidade não é algo que nos enche e sim que nos esvazia. Para nos enchermos do fruto do Espírito, primeiro teremos que esvaziar-nos de nós mesmos. E sempre que nos sentirmos necessitados de mais uma qualidade de Deus em nós, ou de mais um “puxãozinho de orelha”, mais estaremos caminhando em prol da conduta bíblica, cristã e completa.
MCA

15 de fevereiro de 2008

QUE BOM! QUE PENA!

Na década de 80, quando foi fundado o Partido dos Trabalhadores, que hoje é o partido do Governo Brasileiro, havia um candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro chamado Fernando Gabeira. O candidato, na época, ficou conhecido por seu comportamento questionador e questionável do ponto de vista da ética e moral cristãs. Refiro-me especificamente ao fato de ele ter abraçado a luta em defesa da homossexualidade e da liberação da maconha, declarando-se ele mesmo ter sido usuário da droga.

Como todo brasileiro pensou na época, “esse cara é um louco, não vai a lugar nenhum”, poucos deram importância à sua carreira política.

Hoje, mais de vinte anos depois, temos visto uma presença importante do referido político no cenário nacional, ocupando hoje uma cadeira de Deputado Federal, dos mais bem votados do País. Seu discurso inflamado, na Câmara dos Deputados, é ainda utilizado como referência do episódio que culminou com a saída vergonhosa do então presidente da casa. “Vossa Excelência é uma vergonha nacional...”, bradou, contundentemente, para toda a nação.

O Deputado agora, está novamente disparando sobre o atual episódio envolvendo, desta vez, o presidente do Senado Federal. O Congresso está se transformando, segundo ele em uma “sete-um-lândia”.

Sobre isso tudo, quero refletir com você sob dois aspectos: “que bom!” e “que pena!”
Que bom que Deus mantém sobre nós a sua graça. Que bom que no meio das situações onde o mal impera, há vestígios de um mundo melhor e pessoas que lutam por justiça, igualdade, respeito e correção. Que bom que algumas pessoas têm se levantado e contribuído para que haja paz e bem-estar em nossa nação. Aqui, incluo todos os que acreditam e contribuem com sua parte para melhorar o País. Que bom que ainda há pessoas que gritam e esbravejam em nome da ética e da moralidade.

Que pena que não vejamos nossos políticos levantando a bandeira do cristianismo e fincando seu mastro no mar de lama que tem se tornado a vida política brasileira. Que pena que os que hão, investidos de autoridade, se estão engajados em alguma limpeza moral da Nação, a gente não fica sabendo. Que pena que quando ouvimos nomes de cristãos na mídia política é para acusá-los de ações ilícitas, ou, no mínimo, suspeitas. Que pena que no recente escândalo das ambulâncias, a maior parte dos políticos beneficiados pelas ilegalidades era da então chamada “bancada evangélica”. Que pena que pessoas, cujas lutas do passado e do presente, voltavam-se para favorecer condutas ou grupos, cuja conduta é condenada pela Bíblia, pelos Cristãos e por muitos brasileiros, são exatamente os poucos que esbravejam e clamam: Justiça! Justiça!, enquanto muitos de nós se calam.

Deus está dirigindo o Brasil e a Igreja. Mas Ele tem nos ensinado lições severas nos últimos tempos: como a que fez na época de Ciro, o Rei da Pérsia, que era pagão, e no período de Habacuque, quando suscitou uma nação ímpia e cruel (Os Caldeus) para fazer justiça com seu povo.
“que digo de Ciro: Ele é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; que digo também de Jerusalém: Será edificada; e do templo: Será fundado”. Isaías 44:28
Com temor do Pai, Pr. Marcelo

NOVOS ÍCAROS



A Fascinação pelo poder persiste ao longo da história da Humanidade. Por ano são formados milhares de novos profissionais em nosso País. Todas as categorias do saber são contempladas com novos “doutores”, “técnicos” e “cientistas” nas mais diversas áreas. De médicos a mecânicos, de padeiros a garçons, de engenheiros a atores. Enfim, ex-alunos que agora, com um diploma em baixo do braço, partem em busca da sua conquista pessoal: fazer carreira.

Pra além da busca de uma profissão e conseqüente sustento familiar, há o aspecto do poder em toda conclusão de alguma etapa de aprendizado. Rubem Alves diz em uma de suas obras mais significativas para a educação que conhecimento é poder, portanto temos que ter muito cuidado com quem vamos dar este poder. Os magos e os encantadores eram poderosos justamente porque dominavam mistérios e conhecimentos que ninguém mais possuía.

Lembra da lenda chamada o sonho de Ícaro? É a história de um homem que sonhava em voar. Ele tentou de todas as formas atingir este sonho, sem sucesso. Até que encontrou um meio através da construção de asas feitas com cera, que ele acoplou ao seu próprio corpo e então conseguiu voar. Você já deve ter ouvido falar que o ser humano é insaciável em seus desejos, não é mesmo? Pois bem. Ícaro, ao conseguir voar, ficou tão entusiasmado com a conquista que decidiu extrapolar os limites da sua própria invenção. Desejou voar pra sempre, e cada vez mais alto. Até que suas asas foram derretidas pelo calor do Sol.

Muitos, quando se lembram de Ícaro, o chamam de tolo. “Coitado, não soube lidar com o conhecimento, com os limites e, principalmente, com o poder”, dizem. Mas será que foi apenas Ícaro que esteve sujeito a este mal? Creio que não. Todos nós temos a tendência da fascinação com o poder. O dito popular reza que a diferença entre o remédio e o veneno está apenas na dose.

Quando não conquistamos nada não estamos de acordo com o chamado divino. Deus nos criou para crescermos e algo mais. Todavia, vale lembrar de nossos limites e de que devemos saber a hora de parar. Mesmo nesta hora podemos contar com o auxílio divino que também nos ensina em sua Palavra: Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará (Tg. 4.10)


Marcelo Coelho Almeida, 1º Ten Capelão FAB

por ocasião do culto de formatua do aspirantado (espadão) da AFA (Acadamemia da Força Aérea) esquadrão Sírius.

QUEM MUDA QUEM?




A Oração é a possibilidade de mudanças em tempos de crises. Temos esperanças que as coisa ficarão melhores. Mas será uma oração “forte” pode mudar o coração de Deus?

A nossa tendência quando sofremos é achar que aquele tempo é eterno. A dor é tão forte que ela parece que não vai passar nunca.

Não dependemos de que Deus mude seus desígnios para encontrar conforto nEle. A Bíblia nos diz que Ele não muda e que no seu ser não pode haver nem mudança nem variação de mudança. Cremos num Deus Eterno e Imutável.

Todavia não conhecemos jamais a totalidade dos desígnios de Deus. Essa é uma das razões pela qual Ele é Deus. “Quem conheceu a mente do nosso senhor?” e por não conhecermos precisamos conhecer mais, sempre mais. Poderemos passar a vida inteira buscando a Deus e conhecendo mais dele, que ao final de longos anos ainda restará conhecimento de Deus que não nos foi acessado devido às nossas limitações.

Vejo aqui um forte motivo para a oração. Oramos, e com isso, conhecemos a Deus. Sua bondade, seu amor, seus mistérios no trato pessoal conosco, suas consolações, etc.

Fomos criados por Deus, à sua imagem e semelhança. portanto, conhecer a Deus é um caminho muito propício para conhecermos a nós mesmos. Nos conhecemos melhor quando vamos ao Criador. Este também é um bom motivo para a oração. Oramos, e com isso conhecemos a nós mesmos. Nossos limites, inconstâncias, corações carentes do amor do Pai, capacidades de renovação mediante a esperança que brota da fé...

Nossas orações não mudam a Deus. Nossas orações mudam a nós mesmos. Somos diferentes depois do encontro com o Pai. Conhecemos um pouco mais de Deus e um pouco mais de nós mesmos.

O que mais precisamos na hora da crise não é que a crise passe. O que mais precisamos na hora da crise é do amor do Pai.
Imagem: A Criação (afresco da capela sistina - Michelângelo)
Com carinho, Pr Marcelo

O LAGO E O ORVALHO



Lembro da história daquele animalzinho, morrendo de sede, que tentou saciá-la diante de um grande lago, porém, nem uma gota conseguiu beber com medo de se afogar. Andando, o animalzinho lambia o orvalho das folhas sem poder também matar sua sede. Que tristeza, a imensidão do lago e a exígua gota de orvalho...

Frequentemente, vejo pessoas com uma grande vontade ou intenção de buscar a Deus, dedicar a Ele suas vidas ou se envolver na sua obra. Vejo também que muitas delas vivem uma história muito longe de uma vida saudável com Deus. São de Deus na intenção e na vontade, e nada mais. O interessante é que os argumentos para o não comprometimento são parecidos com a historinha que acabamos de contar.

Por um lado “A imensidão e santidade de Deus é a minha grande dificuldade de me achegar à Ele devido às minhas falhas” “tenho medo de me ferir”, ou ainda, “Tenho muita coisa ainda para consertar em minha vida”. Enfim, Deus é muito grande, e sublime demais para me aceitar.
Por outro lado, essas pessoas nunca provam uma real experiência de conversão em Jesus Cristo. Não se alimentam da Palavra como deveriam, saciam sua sede apenas com o orvalhos das folhas que encontram pelo caminho. Isto acontece porque quando se encontram diante da verdadeira comida e da verdadeira bebida que é Jesus Cristo, se deparam com suas limitações e se recusam a aceitar a Palavra de Deus e seus desafios como sendo para sua própria vida.

A palavra está lançada, devemos agora é tomar nossa decisão radical ao lado de Deus. Entender e obedecer a mensagem de Deus enviada à você, como sendo diretamente para você. A missão que Deus lhe dá não é sua, não é fruto da sua propria vontade ou capricho. Isto é obra de Deus. Ele quer você e a sua obediência ã visão que Ele te deu. Assim sendo, você não mais viverá sedento, mesmo estando diante do grande manancial de água da vida que é Jesus Cristo.
Marcelo Coelho Almeida

O BRASIL DOS QUARENTA

imagem: Congresso Federal


Esta semana foi lamentável para o Brasil e para uma de suas mais importantes instituições. O Senado Federal, ao não obter o número mínimo de votos para a cassação do Senador que foi acusado de várias irregularidades e de quebrar a conduta que se espera (decoro parlamentar) de um homem público, confirmou a péssima imagem que tem junto à opinião pública. O pior é que a crise ali instalada agravou-se, e a imagem do Brasil na imprensa mundial, foi mais uma vez envergonhada. O prognóstico não é nada animador. As coisas podem, e pelo que parece, ainda vão piorar um pouco mais. O resultado da votação, que salvou a pele do Senador, na quarta-feira foi de 40 votos. Ou seja quarenta Senadores eleitos pelo povo.

Semanas atrás, acompanhamos o desfecho do julgamento do caso dos “mensaleiros”, aqueles que estiveram envolvidos e comprometidos com acusações (pelas quais foram indiciados) de crime, por venda de votos, formação de quadrilha, dentre outros. Quantos eram? 40 homens, entre políticos, assessores e empresários. Mais precisamente um homem, considerado o “dono”, ou mentor do esquema mais quarenta. Houve até uma comparação tragicômica deste episódio com a história de Ali Babá...

O número quarenta na Bíblia é emblemático. Ele traz consigo tanto boas quanto más notícias. O assunto levantado acima fala de crimes e de problemas sérios para a nossa Nação. Mas baseados na Bíblia Sagrada podemos fazer uma leitura tanto otimista quanto pessimista do assunto.

A única vez que aparece o número quarenta referindo-se a pessoas é em Gn 18.29. Ali, Deus pouparia a destruição da cidade de Sodoma se houvesse quarenta homens bons. Em nosso caso deveríamos consultar ao Senhor e esperar que tenhamos pessoas boas, justas e honestas, em favor das quais Deus nos poupe.

O número quarenta é relacionado várias vezes à quantidade de dias que durou determinado evento: o dilúvio, condenação e castigo de Deus pela desobediência; O tempo em que Moisés permaneceu no Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei; O tempo que foi usado pelos doze homens que foram enviados a espiar a terra prometida; este também foi o tempo que durou as inúmeras provocações do Filisteu Golias para os Israelitas. No Novo Testamento, vemos os quarenta dias relacionados ao tempo de tentação de Cristo no Deserto, pelo diabo e também ao número de dias que Ele apareceu aos discípulos após a sua Ressurreição.

Quarenta é um número, de igual forma, alusivo à ira, ao castigo e a condenação de Deus para com o seu povo. Quarenta anos formam o tempo em que o Povo de Israel foi condenado a vagar pelo Deserto. Em várias partes da Bíblia lemos que este foi o tempo da ira e do castigo de Deus (Nm 32.13). Neste texto há a explicação para todo este longo período: seria o tempo necessário para que “toda aquela gente que desagradou ao Senhor morresse”. Em Dt 25.3 diz que quarenta era o número máximo que um israelita condenado poderia levar de chicotadas, pois além deste número ele seria envergonhado.

E Então, o que quer nos dizer a semelhança do número quarenta com as tragédias a que temos sido submetidos nos últimos dias? Por favor, tire as suas próprias conclusões.
Pr. Marcelo
imagem: Senadores em deliberações




por ocasião do indiciamento pelo Supremo Tribunal Federal de 40 envolvidos no caso do mensalão

31 de janeiro de 2008

O PRIMEIRO PASSO



Sinto que preciso mudar. Muitas coisas que contribuíram para que eu seja quem sou hoje, vieram sobre mim e foram associadas à minha personalidade sem que eu primeiro as questionasse ou fizesse alguma seleção que me levasse a aceitá-las ou não.

Quero ser mais eu nas diversas ocasiões. Sinto é uma grande bobagem, diante de minha filha eu me mostrar durão ou carrancudo só para mostrar autoridade, e diante de pessoas tão menos importantes pra minha vida eu ter que fazer o papel de simpático, dócil o tempo todo e ter que achar tudo engraçado. Quero poder dizer para quem me pergunta como estou: “estou cansado”, “hoje eu não estou muito bem”, ou “o problema ainda persiste” sem que elas me lancem no profundo dos mares com o olhar de quem acha que pastor não passa por problemas, com a reprovação clara de que não era isso que queriam ouvir.

Quero, de coração, ser mais humano. Isso mesmo, mais humano e menos divino. Eu explico. Não se trata de me achar divino e de muito menos sugerir que pessoas me olhem assim. Mas acontece que eu tenho a perversa tendência a querer atingir um status maior do que eu posso ser (quem sabe até buscando ser divino mesmo), e isso me torna desumano. E ser mais humano é estar mais perto e cada vez mais identificado com os humanos ao meu redor. Independentemente do que eles vestem, dos seus títulos ou dos seus cheiros [importados]. Quero apertar as mãos das pessoas olhando nos seus olhos e não apenas por obrigação social. Quero dar atenção a quem me pedir atenção. Quero ser gente boa, como me parece ser aquela gente lá da primeira igreja do mundo (At. 2.47) Quero ser mais calmo e compreensivo com os erros das pessoas contra as quais eu também cometo erros. Quero olhar pra traz e ainda ver caminhos pelos quais eu possa voltar, ou que outros possam ainda trilhar. Quero voltar a ler poesia, a amar a música e a me render às crianças. Quero ver doçura na vida. Quero amar mais e respeitar mais a Criação. Quero ser mais responsável com o planeta.

Quero ser um pregador de palavras. De forma que elas façam bem pra quem as ouve. De forma que elas abram caminho nos corações humanos a fim que o Deus Eterno trabalhe neles. E que jamais eu tenha a pretensão de achar que eu fiz alguma obra miraculosa, ou descobri o remédio ou a poção mágica para o ser humano com os meus livros de teologia emaranhados e afundados dentro de imenso caldeirão, que se chama minha estante de trabalho.

Quero ter mais coragem. Sinto que preciso me lançar na vida e acreditar mais que atitudes custosas levam a resultados benéficos pra muita gente. Quero ter coragem de dizer não ao que o meu coração não consente. E quero poder dizer sim, com convicção, àquilo que é o melhor, mesmo que não agrade a todos.

Talvez eu não pudesse ter dito nada disso se não estivesse determinado a dar o primeiro passo a fim de me tornar uma pessoa melhor.

Marcelo Coelho

24 de janeiro de 2008

O Trem da Esperança - Estação Perus

O trem leva e traz pessoas. Pessoas que partem pra voltar após um dia pesado de trabalho. Enquanto o sol ainda não veio ele já está ali, presente na estação. Vem antes do sol porque o trabalho nasce antes da cidade acordar. Aliás, o trem leva pessoas que vão tornar possível o despertar de outros tantos para mais um dia. São padeiros, cozinheiros, pedreiros, diaristas, e até mesmo motoristas. Gente que faz com que as pessoas, ao acordarem, encontrem tudo funcionando. Mas a vida só funciona lá porque o trem funcionou aqui, antes do sol nascer.

O trem leva e traz sonhos. Na alma de cada passageiro habita um sonho, que no embalo do trem, retoma seu diálogo com o dono. É como se o sonho só aparecesse nesta hora, na hora da viagem. É quando a correria habita apenas sobre os trilhos por que passam o trem. Pois seus passageiros parados, encostados uns nos outros apenas dialogam com seus sonhos. Uns sonham mesmo acordados, outros dormindo profundamente. São sonhos de vencer, de conseguir o emprego, de suportar mais um dia, de ter uma boa notícia do médico, de voltar pra terra natal, de não tomar mais o trem, de compartilhar estes sonhos com alguém, enfim. São tantos sonhos, que por vezes seus donos os expulsam, ao serem interrompidos pela gritaria de mais uma parada na estação seguinte. Ordena-se até que eles desçam (os sonhos) os deixem em paz. Mas não adianta, eles moram dentro da alma, e quando menos se espera eles saltam do meio do mato do lado de fora do trem e voltam a dialogar com o dono.

O trem leva e traz o silêncio e a solidão. Não o silêncio do ambiente, porque este é sonoro e por vezes até sinfônico. Mas o silêncio de cada um. Silêncios e segredos que são compartilhados apenas com os vidros, janelas, portas, paisagens ou folhagens. Solidão não do ambiente porque este é exaustivamente habitado, lotado. Mas solidão que é sinônimo de maturidade, segundo Donald Winnicot, é a capacidade que a pessoa tem de ficar só consigo mesma, ainda que dentro de um vagão no meio de uma multidão. Solidão que faz a gente conversar conosco mesmos e tratar de coisas sérias e profundas. Faz a gente chegar ao lugar de grandes e importantes decisões, inclusive aquelas que transformam pra sempre a vida.

O trem leva e traz esperança. Porque as pessoas que sonham e dialogam consigo mesmas no silêncio de sua alma estão, a cada viagem, renovando a vida e enchendo o mundo de esperança.

Salmos 4:4: Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai.
Com carinho,
Pr. Marcelo em 08/01/2008 às 18h15
Neste ano a IP Esperança comemora 50 anos de organização no bairro de Perus. localizada na rua da Estação de Trem, é a primeira Igreja Evangélica do Bairro.

Feridas Emocionais

Há dores que não passam. No máximo a gente consegue amenizar sua influência.
Ver um filho partir antes de nós, talvez seja uma dessas dores. Certamente há outras. Todavia, devemos admitir que o que cada um sente, enfrenta ou sofre é tão único e especial quanto o é a própria individualidade. Portanto, uma dor que pra mim é passageira, pra você pode ser eterna. E não há pecado nisso, pelo menos até aqui. O que acontece então quando uma dessas dores se aloja em nossa alma? Podemos dizer que se criou uma ferida.


Quando somos crianças, nossa linguagem preferida é "machucado". Veja que interessante: as crianças gostam (e até mesmo se orgulham) de mostrar o machucado. Elas o mostram com um ar de conquista: "vejam só o quanto eu agüentei e agora carrego!" Machucado sem o esparadrapo ou a faixa bem aparente não tem graça. Talvez porque a criança pense: "desse jeito não terei nada pra contar." Conheço uma criança de seis anos que após sete dias de internação pediu para a enfermeira colocar alguns esparadrapos bem grandes nas regiões dos braços onde ela tinha recebido as picadas de agulhas para o soro.


O que acontece quando fazemos essas feridas emocionais? Será que não agimos como as crianças? Pode ser que com alguma diferença na forma, a gente proceda do mesmo jeito. O rosto sempre triste, o mesmo discurso "nada está bom", as mesmas queixas como se fossem canto de bem-te-vi (sempre do mesmo tom, mesma cadência e mesma melodia), podem perfeitamente funcionar como o esparadrapo ou a faixa para "mostrar o machucado".


Você conhece gente assim? A pessoa carrega a ferida emocional como se fizesse parte de sua identidade. É pouco provável que ela se apresente de outra forma. Isto porque a dor passou a fazer parte de sua apresentação pessoal, parte do seu eu.


Não deveria ser assim com o Cristão. O senhor Jesus "levou as nossas dores e enfermidades sobre si". Isto significa que não sofremos nossas dores sozinhos. Cristo se identifica conosco em nosso sofrimento. Por isso devemos esperar d'Ele a cura para essas feridas. E mais, devemos "mostrar o machucado" somente pra Ele, ou pra quem Ele nos indicar, e nunca para o mundo inteiro. Isto porque vivemos este mundo com a expectativa do cumprimento de sua promessa: "Vinde a Mim os cansados e sobrecarregados que Eu vos aliviarei."


Paz, Pr. Marcelo Coelho

No início da campanha de palestras sobre cura emocional na IPE - out a nov de 2007

Vitória e Triunfo?

Vista noturna da cracolândia
(fonte: Google/imagens)

O título deveria ser outro. Mas está certo. Vitória e Triunfo. Nomes que lembram coisas boas: Conquista, sucesso, superação, reconhecimento, enfim, coisas que queremos esperamos e sobre as quais pregamos.

Mas as aparências enganam. Quando falo que o título deveria ser outro é porque o assunto de que falo tem haver com exatamente o contrário. Ruína, perda, derrota, desgraça.

Refiro-me à esquina de duas ruas em nossa cidade que têm estes respectivos nomes (Rua Vitória e Rua do Triunfo). Esta esquina está nas imediações da estação da Luz (outro nome sugestivo) e é também conhecida como cracolândia. Ali centralizam-se os traficantes e usuários de uma das mais destruidoras e arrasadoras drogas dos últimos tempos. O craque, também denominado “pedra” ou “pedrinha”, que tem a cocaína como ingrediente principal.

Crianças, jovens e adultos estão a qualquer hora do dia ou da noite em uma destas ruas com seus corpos e suas almas expostas à realidade de destruição, ruínas e perdas que a cada dia se tornam maior.

E o interessante é que o que os leva para lá são exatamente uma busca incessante da realização máxima de se encontrar a luz, a vitória e o triunfo. São pessoas à procura do alívio da dor. Dor de não se ter uma família. Dor de conviver com problemas sem respostas. Dor de serem como são, dor de terem nascido... talvez onde nasceram. Dor que quanto maior, maior a busca pelo prazer. E quanto mais prazer melhor, ou menos dor.

Vitória e triunfo podem ser sinônimos também de esperança, restauração e transformação para aquelas pessoas se nós como vitoriosos e triunfantes do Reino de Deus apresentarmos nossas vidas ao Senhor como instrumentos e a elas como testemunho vivo de que a mensagem de Cristo é uma mensagem para o ser-humano por completo. E que a “salvação” de nossas “almas” pode ser também libertação do vício, uma casa pra morar, uma família re-lembrada ou re-vivida, a dignidade de ser-humano de volta. Uma nova percepção de prazer e alívio. Um que não requer em troca a deterioração do ser. Mas o alívio do próprio ser de Deus. Disse Jesus: "Vinde a mim... e EU vos aliviarei. "
Marcelo Coelho Almeida
escrito em 1999

A agonia do poeta e a dor da prostituta

Tenho pensado na semelhança entre estas duas profissões.
Já faz tempo, me incomoda o fato de o poeta não ser dono de sua obra. o que ele escreve deixa de ser dele neste momento. Embora seja um pedaço do seu ser que saltou de suas profundezas. Um poema é parte, pedaço de quem o escreveu.

Pense no significado do texto. Pense na fonte de inspiração. São coisas tão íntimas do poeta; coisas que só ele conhece e, quando as recorda, sua alma pulsa dentro do peito. Nem mesmo o significado e a inspiração têm o mesmo sentido quando sua obra for lida por alguém. será alguém que a lerá. Portanto, será uma nova obra. O que “os Lusíadas” mobiliza em você é único. Só você sabe. E isso já deixou de ser ‘propriedade’ de Camões desde que o primeiro leitor sentiu algo ao relacionar-se com o texto. O corpo de uma poesia é de quem a possui. Não é mais do autor.

Diz Jung: "Toda Casa tem um espírito. se o teu espírito não bate com o espírito da casa. Esta não é uma casa para o teu espírito".

Assim, se o espírito do leitor não se coadunar com o espírito do poeta, aquela obra não fará sentido nenhum para o leitor. Não o fará sentir. Na verdade, nem mesmo terá sido lida de fato. Portanto não será "possuída", ou "violada". Não se tornará corpo no seu corpo, ser no seu ser. Não será uma fala para o seu espírito.

Se, todavia, o leitor/amante encontrar algo que esteja dentro de seu ser refletido no papel e que no momento da leitura vem à tona, então está sacramentada a violência, o roubo. Mesmo sem ele saber que é assim - porque o que faz uma leitura ser bela não é a formulação literária é, antes, a revelação de verdades interiores. Verdades do ser de quem lê. Verdades que partiram do ser de quem escreveu. Coisas que o nosso ser gostaria de ter nos dito e não encontrou palavras, e as palavras (agora nossas) se encontram ali no papel, na nossa frente. Acho que é por isso que os dramas e as tragédias sempre tocam profundo em nós. Ninguém se encanta ou lembra-se com facilidade de uma telenovela campeã de audiência. Mas todos revivem experiências inéditas ao impactar-se com o amor e a morte de Romeu e Julieta. Talvez seja porque a experiência de amar tenha para o nosso ser o sentido mais escuro e profundo de morrer pelo outro. Amar é escolher. Escolher é não escolher tudo o mais. É morrer para outras possibilidades. Aurélio nos dá o significado de Agonia: iminência de morte. O poeta é alguém que faz nascer sua produção e a faz morrer ao mesmo tempo. Quando fala de amor vive a experiência da morte. Fala de algo que penetrará outros seres que não ele. Seu amor sobreviverá. Mas para si morrerá.

Aqui, o que poeta escreveu deixa de ser dele e passa ser propriedade
exclusiva de quem estiver "fazendo amor" com suas palavras/entranhas. Neste momento a inspiração e significado (emoções) são outros. Não mais as do poeta mas de quem lê. Pronto. Está entregue um pedaço [da alma] do escritor àquele que se deleita e têm seu momento de gozo com ele. Pois fazer poesia é isto:
entregar um pedaço de você para que outros (muitos outros) tenham prazer com isso. E o poeta [a poesia] fica ali inerte esperando que os outros cheguem ao êxtase.

Fernando Pessoa diz que poesia não é inspiração, é trabalho, transpiração. Já tentou escrever um poema? Viu como é difícil? É assim: de repente você tem um lampejo de inspiração e arrisca colocá-lo no papel ou na tela do computador; depois de algumas tentativas , é comum pensarmos que aquilo que poderia transformar-se em pérola não passava de pedra bruta. É bobagem, a gente pensa: “deixa pra lá!” A tentativa de traduzir o sopro das profundezas da alma que ventilaram sua mente naquele instante, torna-se cada vez mais difícil. O prazer é invadido pelo trabalho, pelo dever de arrumar as coisas, as letras, a rima, a métrica etc. Trabalho não combina com prazer. Ou se tem prazer ou se trabalha. Ou será sem propósito que os escritos sagrados mais antigos atribuem ao trabalho o grau de penitência ao pecado. “Do suor do teu corpo comerás o pão”.

Então, o que dizer mais acerca da prostituta? Estamos falando de inspiração, prazer, ou trabalho? Certamente, trata-se de uma produção passível de muitas ‘leituras’. Há quem possa conceber a leitura do prazer. Outras ainda são possíveis. Fuga. Asco. Agonia. Mas e da parte dela, que oferece o corpo por trabalho? Que parte do ser está no corpo? Qual ser esta sendo dado para preencher o ser do outro?

Na poesia e nesta profissão, que é pelo senso comum, a mais antiga, trabalho e prazer confundem-se. Ser e não-ser. Vida e morte. Agonia e dor. Inspiração e obrigação confrontam-se numa luta tal que não se sabe ao certo quem ganha ou perde. Suas produções nos levam a, pelo menos, uma fatídica conclusão: a dor da alma de um provoca prazer e delírio no outro.

Marcelo Coelho Almeida
Escrito em agosto de 2000